William Turner. Light and Colour (Goethe's Theory) |
A trama dos livros do pentateuco é entrecortada por divagações, histórias heróicas, listas e leis que vão da criação do mundo e dos primeiros homens até a chegada do povo escolhido à terra que Deus lhes teria prometido. O gênesis se resume a narrar a história da criação do mundo e do homem por Deus, e as subsequentes punições que o homem sofre por não prestar a devida obediência a seu Senhor. A primeira punição se refere à queda do homem que vivia em estado de perfeição no paraíso terreal, o jardim do Édem, descrito como uma porção do oriente próximo, atual Iraque. Outra punição segue, o dilúvio, e do mundo pós diluviano ressurge com o mesmo grau de corrupção. Deus estabelece, portanto, um pacto com Abrãao, que se provaria um homem incorruptível e leal a Deus, recebendo em troca diversas benesses. Por intermédio de seu filho, Jacó (mais tarde renomeado como Israel), Abraão e outros membros do clã são aceitos na monarquia egípcia num período de secas que os obriga a abandonar a terra prometida, Canaã, para qual Abraão havia se deslocado por ordem de Deus por ocasião de seu pacto divino. O livro se encerra com o estabelecimento dos herdeiros de Abraão no Egito.
A
autoria do gênesis é um caso de debate. Embora a tradição atribua a
redação do livro a Moisés, importante líder das sagas hebraicas, os
textos não fazem referência a um autor específico. Além disso, é forte a
impressão de que se referem a Moisés e aos fatos narrados como
distantes no tempo, inclusive apresentado diversas etiologias e origens
de toponímias que evidentemente não fariam sentido caso a redação fosse
contemporânea. No entanto, se pudermos aceitar que o Moisés histórico
possuiu grande proximidade com as descrições bíblicas, não há porque
duvidar que ele realmente tenha fornecido o núcleo duro dos textos que
foram reunidos para se redigir o gênesis e, de forma mais ampla, todo o
pentateuco, (com exceção, é claro, da descrição acerca da morte do
próprio Moisés em Deuteronômio).
Como veremos em outros momentos, os debates acerca da autoria dos livros bíblicos são bastante complexos, e envolvem admitir até que ponto fontes orais ou escritas puderam servir como arcabouço literário para a preservação de histórias e versões religiosos que possivelmente remontam a milênios. Também concernem os estudos a respeito da possível edição da Bíblia via diversas tradições literárias, como a chamada Hipótese Documentária, hoje relativamente criticada não apenas pelas religiões mais literais, que nunca a haviam visto com bons olhos, mas também pela academia.
Como veremos em outros momentos, os debates acerca da autoria dos livros bíblicos são bastante complexos, e envolvem admitir até que ponto fontes orais ou escritas puderam servir como arcabouço literário para a preservação de histórias e versões religiosos que possivelmente remontam a milênios. Também concernem os estudos a respeito da possível edição da Bíblia via diversas tradições literárias, como a chamada Hipótese Documentária, hoje relativamente criticada não apenas pelas religiões mais literais, que nunca a haviam visto com bons olhos, mas também pela academia.
Atualmente, há considerável divergência a respeito de como datar os livros bíblicos. Para muitos, essa questão pode parecer supérflua ou até herética. Mas para os biblistas, os historiadores e arqueólogos (e para os autores desse blog), saber quando os textos foram escritos é essencial quando se está comprometido com a busca de informações objetivas e sensatas. Para a teoria da história, o contexto de criação de um texto é essencial para não se incorrer em leituras anacrônicas e apontamentos equivocados. Desta forma, seria bastante estranho encontrar em Tucídides, autor do século V a.C., referências ao conceito cristão de penitência, uma vez que são distantes no tempo. A própria transformação da língua impede que um termo grego qualquer seja traduzido da mesma forma e com a mesma conotação em documentos da Atenas clássica e do novo testamento, uma vez que os contextos de produção desses textos estão separados no tempo por muitos séculos.
A mesma crítica é válida para documentos espacialmente distantes, e é por isso que a busca de autoria normalmente se confunde com uma esforçada tentativa de localização geográfica daqueles que escreveram o texto. Veremos como esse elemento é essencial para se compreender, por exemplo, os evangelhos e os manuscritos do mar morto.
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